Flores Viradas do Avesso - Azores Lovers
Flores Viradas do Avesso
Já a denominaram de ‘Suíça açoriana’ pelos seus montes e vales mas também de ‘Ilha da água’ pelas suas inúmeras ribeiras e cascatas. Também já foi designada como a mais cabalística dos Açores pelas suas 7 lagoas, 7 baias e 7 vales… Certo é que apesar da sua pequena dimensão, é luxuriante a sua beleza e a sua paisagem, entre grandes contrastes de diferentes tons de verde, azul e negro, constituindo uma aventura para a alma e para os olhos de quem a visita. Ali o tempo é lento e os dias são grandes, e é assim que a ilha deve ser visitada… com calma e com tempo para melhor descobrir e apreciar tudo o que este pequeno paraíso no extremo ocidental do continente europeu tem para oferecer, seja por terra ou por mar.
NO RASTO DOS POVOADORES…
É um local recôndito, que merece uma visita por ter sido o primeiro local onde desembarcaram os povoadores da ilha no século XV e onde também terá aportado a baleeira Modena em 1873 com o capitão Lang e 11 homens, cujo testemunho se encontra gravado numa famosa pedra na Fajã do Conde, um pouco mais acima. Na Ribeira da Cruz (1) pode usufruir-se do sossego da pequena baía, sita junto à foz da ribeira – onde outrora funcionaram diversos moinhos de água – adornada por uma praia de calhau rolado onde é possível ir a banhos. Para lá chegar é necessário atravessar a Ribeira dos Barqueiros, nos arredores de Santa Cruz, descer em direção à acolhedora Fajã do Conde (2) e seguir o caminho que depois desce até ao mar…
ILHA A 360º
Morro Alto (3) é o ponto mais alto da ilha e dos seus 914 metros tem-se uma vista privilegiada e soberba a 360º, acessível de carro por um caminho de bagacina. Uma vista panorâmica a partir da zona central da ilha para lagoas, montes e vales repletos de plantas endémicas, serpenteados por estradas, muros de pedras e sebes de hortênsias.
Mar a toda a volta, mar a perder de vista e a vizinha ilha do Corvo no horizonte. À noite é um ‘observatório astronómico’ natural, por excelência, com um céu infinito cheio de estrelas e constelações para descobrir e aprender, atravessados pela via láctea que aqui ganha outras cores e dimensões…
BAÍA DO SOL E DA LUA
Baía encantadora situada na costa Leste. A Alagoa (4) é um local privilegiado para observar o nascer do sol – ou à noite apreciar o luar e ouvir o som dos cagarros no Verão – defronte a uma série de ilhéus com diferentes formatos que enfeitam a baía e a praia de calhau rolado, vislumbrando-se no horizonte a ilha do Corvo. Ali também se podem observar garajaus comuns e rosados, já que é uma zona de nidificação da espécie e parte integrante da Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies do Parque Natural da Ilha.
Além dos banhos de mar, podem fazer um picnic no parque de lazer junto à ‘Casa do Guarda’ ou até percorrer parte do trilho da grande Rota que liga Santa Cruz ao norte da ilha.
BALEIA À VISTA
A subida à Vigia da Baleia da Fajã Grande (5) é um passeio com cheiro a aventura, percorrendo uma extensão de 280 metros, com entrada logo no início do casario da freguesia. A vista altaneira permite observar a fajã lávica que se estende desde a rocha emoldurada por uma série de cascatas até ao mar, com o ilhéu do Monchique ao fundo a anunciar que ali começa ou acaba a Europa… Na descida, os mais aventureiros poderão optar por ir até à Aldeia da Cuada ou à Fajãzinha, deambulando pelas suas ruelas e sentindo toda a sua ruralidade e ancestralidade.VIAGEM NO TEMPO
A Fábrica da Baleia do Boqueirão (6) é um local que merece uma visita atenta e interessada pelos diferentes espaços que retratam cuidadosamente as diversas fases da laboração e a memória da atividade baleeira da ilha no edifício agora reconstruído. Antiga fábrica da baleia, construída na década de 40 em Santa Cruz, que deixou de laborar em 1981 e que depois de estar encerrada durante vários anos, foi devidamente reabilitada para reabrir ao público como espaço museológico, sendo uma das maiores e mais bem preservadas do arquipélago.
AVENTURA GASTRONÓMICA
Com sabor a maresia, a erva patinha ou erva do calhau é colhida nos meses de janeiro/fevereiro e com esta alga se confecionam deliciosas tortas ou pastéis. Peixe fresco, lapas e cracas também fazem parte da lista. Característica é também a linguiça, que aqui assume um sabor peculiar e que deve ser comida com inhames e torresmos de carne ou de toucinho. Nos meses de verão é possível saborear as tradicionais sopas de Espírito Santo um pouco por toda a ilha e nas principais festas (Festa do Emigrante nas Lajes ou Festa do Espírito Santo da Praça em Santa Cruz, ambas no mês de julho), além de um delicioso caldo de peixe que é oferecido à população e forasteiros nas festas do Cais das Poças, no início de agosto. Por outro lado, os variados queijos, a manteiga e os iogurtes são também sabores a provar e produtos a levar na mala ou mochila no regresso a casa.
ENTRE TASCAS E BAILARICOS
Nos meses de verão multiplicam-se as festas e arraiais por todas as freguesias da ilha, onde quase todos os fins de semana há um bailarico e uma tasca cheia de petiscos da terra e do mar para saborear. Nas festas maiores de ambos os concelhos é possível assistir a cortejos etnográficos que oferecem uma viagem no tempo aos costumes e tradições de outrora. Em algumas festas e quando há atuação de grupos folclóricos, geralmente no fim são convidados elementos do público para se juntarem aos bailarinos e dançarem uma chamarrita, dança tradicional dos Açores.
MINÚCIA DESCONCERTANTE EM MIOLO DE HORTÊNSIA
É a única ilha dos Açores onde se fazem trabalhos em miolo de hortênsia e atualmente são apenas duas as artesãs que ainda o fazem. Trata-se de um trabalho artesanal delicado, que começa pela recolha dos caules das hortênsias, que depois de secarem ao ar livre durante algumas semanas são prensados para extrair a sua medula. Segue-se o corte desta matéria em lâminas finas, com o auxílio de uma navalha, para depois compor os arranjos com pequenas ferramentas como pinças e tesouras. Das suas mãos saem composições florais em miniatura e até cestas de flores mas também outros objetos de adorno feminino e demais objetos decorativos.
Sara Nóia