São Miguel Virado do Avesso - Azores Lovers

São Miguel Virado do Avesso

Na ilha verde moram os micaelenses, povo trabalhador e ainda algo conservador, marcado pela emigração, fiel às suas raízes.

Os micaelenses não sentem a ilha como aqueles que a visitam, mas quando têm de partir, a ilha vai com eles e é plantada seja em que coordenada do mundo for. Sentem saudades de coisas que nunca valorizaram antes. E se, porventura, algo se tiver alterado aquando do seu regresso, “Ah, coriscos mal-amanhados!”.

Já dizia José Saramago que “é necessário sair da ilha para ver a ilha”. Mas, afinal, de que sentem eles saudades?
Permita-nos guiá-lo por algumas das genuínas vivências de um residente.



A NATUREZA É O SEU ALPENDRE
Se em alguma parte do mundo vir uma família a fazer um picnic à beira da estrada é, decerto, uma família micaelense. As lindas estradas cobertas de hortênsias, com inúmeros spots para merendas e churrascadas, revestidos por árvores e vistas deslumbrantes, convida qualquer um a estender a sua toalha e abrir a sua “cooler” para desfrutar de um picnic ou de um cozido acabado de ser retirado das caldeiras da Ribeira Grande ou das caldeiras das Furnas (1).

Dentro da cesta, trazem-se bolos lêvedos ou pão caseiro de Santa Bárbara, madalenas, sandes de ovo ou pasta de chouriço (também se aceita de atum), rissóis ou pastéis de bacalhau, uma morcela ou chouriço para assar, e uma Kima de Maracujá ou uma Especial para ajudar a descer.

Alguns locais dispõem de madeira gratuita para a churrasqueira. Gratuita também é a música, assobiada por vários passarinhos. Caso se encontre numa zona costeira isenta de luzes e agitação, ao anoitecer, quase de certeza ouvirá o som inconfundível dos cagarros.

É BOM COMO O MILHO!
Se encontrar algum indivíduo indignado na prateleira das pimentas de um supermercado, este é um micaelense que não passa sem a sua pimenta-da-terra para os seus temperos. Num supermercado estranho também faltará a massa sovada, o bolo lêvedo e as queijadas da vila.

Morrem de saudades de um cozido das Furnas, de uma caldeirada de peixe, e de um bom bife à regional, e suspiram por uma fofa da Povoação ou um ananás.

“EM FEVEREIRO TEM CARNAVAL” E MAIS
Cansado das festas de Natal e Ano Novo?
Recupere, porque em fevereiro tem mais! A Quarta-Feira de Cinzas marca um período religioso e carregado com sobriedade até à Páscoa, que os micaelenses assumem, mas não sem antes festejarem “como deve ser”. Aqui, e nas outras ilhas, o Carnaval não tem 3 dias, mas 4 semanas.

Desde há cerca de 100 anos que, nas quatro quintas-feiras que antecedem o Carnaval, são celebrados os dias dos amigos, das amigas, dos compadres e das comadres, convocando a celebração da amizade em almoços ou jantares divertidos, incluindo por vezes alguns acessórios carnavalescos.

Tradicionais eram também os Assaltos de Carnaval, onde os particulares recebiam pessoas nas suas casas para serões dançantes alusivos à quadra. Em força continuam os bailes de Carnaval, com particular destaque para os do Coliseu Micaelense, celebrados na sexta-feira (gala), sábado (fantasias) e segunda-feira (gala) que precedem o Carnaval, onde desfilam diversas cestas de farnel a concurso, e onde a animação é garantida.

Na terça-feira de carnaval, os sobreviventes invadem a marginal de Ponta Delgada com camiões para a famosa “Batalha das Limas”, onde se inicia uma luta contra todos, com sacos e balões de água religiosamente preparados em serões de grupos, dias ou semanas antes do evento.


ROMARIAS NOS CAMINHOS DE FÉ
As romarias em tempo de quaresma surgem no séc. XVI pelo temor à natureza, quando terramotos e erupções vulcânicas devastaram lares e famílias.

Hoje, centenas de romeiros percorrem as igrejas e ermidas da ilha todos os anos, em ato de fé, em busca de respostas ou promessas divinas, ou simplesmente pela espiritualidade e meditação próprias desta prática, ao sol ou à chuva, com feridas nos pés e cansaço extremo. A passagem de um rancho de romeiros não deixa ninguém indiferente e evoca a solenidade do momento desde que se ouve entoar os seus cânticos.

Parte do trilho dos Fenais da Ajuda – Lomba de São Pedro é também percorrido pelos romeiros, pelo que todos amantes de trilhos pedestres estão convidados a fazê-lo. Mas para o fazer como manda a romaria, é sempre com o mar pela esquerda, começando portanto pela igreja dos Fenais da Ajuda.


RELIGIÃO E FESTA NÃO COMBINA?
No quinto domingo depois da páscoa começam as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a maior festividade religiosa dos Açores. Emigrados e descendentes de todo o mundo regressam à ilha nesta altura do ano para ver passar a imagem do Senhor Santo Cristo, numa emocionante procissão, pelas passadeiras de flores nas ruas de Ponta Delgada, onde se debruçam mantos coloridos nas janelas.

Se esta festa é marcada por sinais de gratidão e promessa, também o é pela reunião de familiares e amigos, pelo cheiros e sabores da cozinha regional e nacional à escolha em inúmeras barraquinhas, pela mostra de produtos e artesanato local na feira, e pela animação garantida.

As Festas do Espírito Santo são celebradas em várias freguesias e vilas da ilha como festas do povo para o povo, festas de ajuda, partilha e comunidade, acolhidas por um imperador (ou mordomo) que, por norma, é posteriormente coroado. Nestes impérios, como são popularmente chamados, após a procissão e a missa da coroação, distribuem-se as Sopas do Espírito Santo e, em muitos casos, acresce – mas não só – o vinho, a massa sovada e a carne guisada, ao som de música popular, folclore e cantares, rifas e sorteios.

Alguns impérios contam ainda com cortejos de carros alegóricos e carroças de bois. Cada império tem a sua particularidade, mas todos encerram um fim comum: a distribuição de Pensões (esmolas) aos que mais necessitam.


NO VERÃO DESFILAM AS MARCHAS POPULARES
No Verão, todos os Santos ajudam e, entre fogueiras, sardinhas, morcela e vinho, lá entram as marchas populares, onde se sucedem os carros alegóricos, saias alegres e músicas cantadas a Santo António, São Pedro e São João, celebrando temas como a amizade e o amor. As marchas são preparadas com afinco por três gerações e várias semanas antes do evento.

Magia de Santo António, o padroeiro dos namorados: à meia-noite do dia 12 de junho, coloque papelinhos bem dobrados num recipiente de água, cada um com o nome de um amor escrito, e deixe o recipiente à janela, fora de casa. De manhã, o papelinho mais aberto destinará quem é o seu futuro amor.

Carla Pacheco



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